segunda-feira, 28 de junho de 2010

... do mesmo sexo

Ninguém disse que, afinal, desde o princípio da Humanidade aconteceu.
E para um sujeito que não tinha noção disso, tudo foi estranho. Até porque os
seus valores eram - ou são! - contra.

Não lhe tinham dito que se resume a um jogo de probabilidades. Tal como
calham os dados... É assim que acontece. Por estranho que se pareça, não se trata
de uma seita New Age, de um grupo de militantes ou de uma moda urbana.
É uma lotaria; premeia o mais verde dos activistas como o racista mais puro.
E seja bom, seja mau, o prémio acontece, por acaso, numa pessoa que nunca
tinha jogado.

Qual é o prémio de semelhante lotaria? Podemos nem saber defini-lo bem.
As palavras falham quando tentam compreender a realidade, mil vezes
mais complexa. E no que se refere ao amor... Ou o que lhe quisermos chamar...
Atracção. Fascínio. Dúvida. Conforto. Ou medo. Ou o simples olhar. Ou o pensamento
que surge por um segundo. Ou a lembrança que procuramos apagar quando nos deitamos
e esquecemos o mundo.

O relógio bate certo. Existem muitas, não apenas uma Única, leis do universo.
O que cada um sente, precioso e sério, ou nega, ou reforça, este mistério.
E todos eles, em conjunto, empurram a resposta para o infinito.
Se há uma regra Única, é o ser humano, na sua organização racional, que a cria.
Porque tem lógica, por A mais B, porque é complexo ou ridículo de outro modo.
E quando cria a regra, deita as mais estranhas possibilidades num cofre
enterrado no solo. Ou numa gaveta, pequena e secreta, no canto do quarto.
Mas ainda assim, eles - os sentimentos - libertam-se e povoam a Humanidade,
como sempre o fizeram. Andam mesmo à nossa volta, indiferentes aos
nossos medos e leis, e acontecem.















Quando à força os sentimentos se escondem, quando as palavras não se dizem,
é apenas essa "lei Única" «homem-mulher» que ganha. E ela afirma-se em toda a parte e é
a única, desprezando as leves comichões que se fazem aqui e ali, nos becos solitários
dos jardins de rua, nos dedos que se tocam na mesa de um café, nas ondas invisíveis
que captam dois diferentes olhares em dois telemóveis.

À margem, muitas mais coisas acontecem. Um simples texto num blog pode ser uma.
Como os graffitis que se desenham pela calada. Dando em algo, ou dando em nada.
Ou pode ser uma tentativa. Por exemplo, de criar algo (geográfico ou intelectual)
onde isto - experiências, sentimentos, conceitos - possa ser mostrado, falado; visível,
ou reservado. Onde se permita que as vivências rebaixadas pela "lei do que é
normal" possam dialogar sem perigo de ser criminosas.

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apenas exemplos


Em vários locais do país existem ideias. Seja de que
tipo for. E não apenas em Lisboa ou no Porto.

A "rede ex aequo" é um exemplo. Através dela, grupos de jovens
organizam, nas suas cidades, um espaço de convívio, reflexão e esclarecimento
acerca das questões relacionadas com as vivências não hetero-normais
(começando pela sexualidade - as pessoas de quem gostamos,
passando pela identidade de género - aquilo que sentimos que somos).
Um lugar fixo e um calendário - duas vezes por mês -, três jovens voluntários.
E pessoas - curiosas, intrigadas, faladoras ou pacatas - que durante
uma hora partilham, ou ouvem, experiências de vida.

Para que se crie um grupo num determinado local é preciso que pelo menos
três jovens se voluntariem. A associação fornece o apoio necessário
- material teórico, formação, material gráfico, orçamento e ajuda logística -
para a procura do espaço e organização dos encontros.

Apenas um exemplo. Para este, para outros, a alma são as pessoas.
As ideias, as perguntas. A ti, se pretendes saber um pouco mais sobre
isto, se tens um assunto na cabeça, manifesta-te. Se quiseres podes contactar
com a associação, o site é este. www.rea.pt
Ou podes enviar uma mensagem para um_projecto@portugalmail.pt.
Não precisas identificar-te nem dar justificações. Ninguém sabe quem és
e nunca saberá, se o quiseres. Não tens de manter contacto. Moro na zona
de Torres Novas-Tomar. Tenho, como muitos, estas cidades no peito, e nelas
vejo de perto (ou por ignorância até perco) manifestações ou silêncios. Para ideias/
discussões/iniciativas nas nossas cidades, talvez gostasse de participar.
Há muita massa cinzenta a fervilhar por aí, pulsando nos seus compassos.
Do cruzamento de pelo menos duas, algo resulta.
Se calhar já te vi na rua, mas nunca nos falámos.

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